sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

The Beginning





05/02/2011


E cá estou em Nova York. Cercado de concreto, de gelo, de sacos de lixo e de ratos. É, meu irmão, essa também é a verdadeira Big Apple. As linhas do metrô jamais acabam; seu cheiro de mijo tampouco. Os táxis brotam do bueiro, são maioria absoluta entre os veículos que circulam nas ruas de Manhattan. Caminhões de bombeiros e ambulâncias com suas sirenes lancinantes também costumam aparecer bastante. Os automóveis amarelos são pilotados por gente do mundo inteiro, de paquistaneses a peruanos, de italianos a nigerianos. Mas isso quem me conta é a Chris, pois desde que estou aqui não consegui pegar um desses. Os carros estão sempre com passageiros, quando estão vazios não param nem fodendo; e quando param se recusam a nos levar aonde a gente quer. A saída é entrar no Subway, que funciona perfeitamente mas fede, ou caminhar numa friaça de - 5 graus. A Bisny já não é chegada num frio (fica com os dedinhos parecendo picolés), ainda mais com a garganta estropiada... A verdade é que andar na rua vira masoquismo, ainda mais se é nelas que você sobrevive. Porque aqui, pra viver bem mesmo, tem que ter grana. E não é pouca não. É claro que, como em qualquer grande centro urbano dos Estados Unidos, pra fazer compras é o paraíso. Mas como compras são a ultima coisa que me interessa, pra mim não faz diferença. Se bem que, sugado e mastigado pela bolha, não pude evitá-las.

Hoje eu ia trabalhar como garçon em coquetel num hotel chiquéééérrimo, coisa que, apesar das minhas habilidades e técnicas diferenciadas na BoquetaBar do Spot, já não estou mais com aquele animo todo de fazer. Enfim, o cara ia pagar 20 dólares a hora num trampo de 7 horas. Eu ia ganhar na faixa de 150 doletas o job, menos as tais compras que ferraram com a minha vida. Eu explico. Pra fazer esse trampo tinha que ter sapato preto, calca social preta, camisa preta, cinto social preto e gravata preta. E quem disse que eu trouxe essas coisas para Nova York? E quem disse que eu tenho essas coisas? Justo eu que quero passar o resto da minha vida o máximo de tempo possível sem roupa. NATURISM!!! 
Bom, mas já que ficar aqui e não voltar para o Brasil foi decidido e já que para morar numa caixa de sapatos a gente gastaria pelo menos 1800 dólares por mês - e até onde eu sei sou um cara desempregado -, toca comprar os "utensílios" do mais novo new  Manhatthan’s waiter of the year. O sapato e o cinto comprei na pechincha: 43 dólares os dois, tax included; a camisa e a gravata comprei na Banana Republic, porque comprar uns artigos vagabundos lá nos Chinatown não rola - já que vai ter que comprar, pelo menos compra alguma coisa decente. Enfim, os 98 da gravata e da camisa, mais 40 da calca da GAP, mais aqueles 43 do cinto e do sapato, tudo gira em torno de um total na base de mais ou menos 180 DÓLARES!!!! Pronto, já paguei 30 pra trabalhar...

Levando isso em conta, hoje, ao “amanhecer” no começo do entardecer, aqui no cafofo em que habitamos (sem janela ou qualquer tipo de luz, no porão de uma residência coabitada por mais quatro pessoas, no Brooklin), a mente foi clareando. Olhei pra Bisny, também afetada pelo "clima" gelado da cidade, e propus que a gente fizesse a única coisa que me pareceu sensata no momento: arranjar um carro e ir para a Califórnia, cruzando as famosas, ensolaradas e intermináveis estradas que cortam o país de Leste a Oeste. Portanto, de viagem marcada para a Califa, talvez em um breve mas benéfico impulso transgressor, resolvi dar o cano no rapaz bem arrogantinho que havia me contratado. Liguei uma hora antes do combinado, disse que tinha tido problemas particulares e estava voltando para o Brasil. Se o cara for bom mesmo, arruma outro facinho pra me substituir; se fosse no Spot, o Zé Barros arrumava com o pé nas costas.
Agora o mais louco de tudo isso é a maneira como a vida se movimenta. Vim pra cá a principio pra passar o meu mês de férias. Dois dias aqui e já tinha decidido que não voltava. Mais uma semana e a gente resolve que vai pra Califórnia de carro. Desse jeito, vou conhecer o mundo todo antes do que imaginava... Enfim, acredito muito que nossos sonhos e desejos nos impelem aos caminhos para realizá-los, a gente só não pode ignorar esses sinais. Antes de tudo, antes de conhecer qualquer coisa ou lugar, a gente tem que se conhecer um pouco. Boto fé que vou pra essa próxima etapa da minha vida um pouco mais sabedor de quem sou - apesar de saber que nada sei. E pronto para encarar mais de 5 mil km de estrada. 

2 comentários:

  1. Amiga adorei o blog!!!
    como o Thiago escreve bem hein!! parabens!
    Saudade da porra viu!!

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  2. Showzao, tracei uma meta: ler o fifty inteiro no menor periodo possivel...nem que o Luquinha precise pular algumas refeiçoes para isso.

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