sábado, 27 de agosto de 2011

Missão (quase) cumprida




27/08/2011

Confesso que a minha reação no momento me surpreende. E me agrada. Estou sentado no café de um supermercado enquanto a Bisny providencia as últimas compras antes de partirmos para o Burning Man. Estamos em Reno, NV, última cidade grande antes de chegarmos ao Black Rock Desert. Em menos de três horas estaremos experenciando esse modo diferente de coexistência - e sobrevivência - com outras 60 e tantas mil pessoas, em um ambiente totalmente inóspito. Nesta mesma terra árida estaremos construindo uma estrutura com nossas 50 bandeiras,  finalizando assim uma viagem de 6 meses por todo o território norte-americano. 

Nossos amigos de San Francisco, Burners de longa data, não estarão conosco devido ao surpreendente sold out dos tickets. A cada segundo alguém nos diz que não poderemos sobreviver sem algum determinado ítem que não temos, e a lista aumenta. Acho que tudo isso serviria para um rapaz espevitado como eu estar a um milhão por hora neste exato momento, não? Pois é, mas eu estou zen. E acho que sei o porquê. Porque sei que o FiftyFlags não acaba por aqui, ele apenas muda de fase. 

O FiftyFlags é muito mais que uma viagem ao redor dos EUA. Ele é o pontapé na porta das infinitas possibilidades. Eu, o meu mundo, a minha mente e o meu coração mudaram tanto nessa viagem, ou melhor, nessa passagem, que nem sei dimensionar ainda o quanto isso vai influenciar a minha maneira de existir daqui pra frente. Às vezes penso que nem vou perceber essa mudança, já que logo ela vai se transformar em uma outra mudança, e assim por diante, até todas essas mudanças me levarem ao lugar que na verdade é imutável: Eu. Enfim, me perdoem aqueles que acham essas minhas reflexões um tanto quanto ultra obscuro-psicodélicas, o meu intuito não é produzir frases herméticas. Mas, voltando, talvez eu esteja tranquilo porque essa etapa já foi cumprida. O que quer que aconteça no deserto - e eu sinto que vai ser estrombático - só vai coroar uma jornada bem sucedida de duas pessoas que se amam e se respeitam muito. Nunca eu e Bisny estivemos tão em sintonia como estamos agora, o nosso presente é o maior presente. Todas as névoas que passaram por nosso céu foram assim como vieram; a cumplicidade e a compreensão nos fortaleceram, nos agigantaram. Somos uma dupla que funciona, mais que isso, somos um time vencedor. E esse time vai continuar lutando muito para vencer em todos os certames da vida. 

É com um pouco de nostalgia que escrevo meu último texto em solo yankee. Dentre outras coisas, essa viagem me proporcionou a retomada da escrita, que é uma atividade que me dá real prazer, me aproxima de minhas emoções e ilumina a minha razão. Esse texto que vai aqui foi bastante adiado, o último post desse blog foi há um considerável tempo. Depois disso tivemos aventuras em Washington, Alaska e Hawaii. Voltamos a San Francisco e agora cá estamos, com nossa van de carga entulhada de tralhas para nossa derradeira semana. Daqui é pro Brasil, de volta ao lar e às raízes. Os sentimentos se misturam, é uma vontade muito grande de chegar e realizar, e fazer, e acontecer, e inovar, e… E dá também um pequeno receio de sofrer com a perda dessa liberdade cristalina experimentada em desertos, montanhas, canyons e praias. Somos de São Paulo, nascemos e crescemos lá. Nossas famílias e a maior parte de nossos amigos estão lá. Mas lá também está muita coisa que não queremos pra nossa vida: buzinas, sujeira, estresse. Eu particularmente sei gostar de minha cidade, mas sei que isso não basta. Penso em aproveitar as oportunidades que ela me oferece, espremer até sair a última gota de limão, e aí, quem sabe, com meu açucar, amainar o azedume de seu concreto. 

A minha dose de doçura e de suavidade eu calibrei no Kauai. A paradisíaca ilha havaiana foi nosso lugar preferido de todos; uma semana percorrendo suas praias, cachoeiras e montanhas mexeu muito com a gente. A profunda comunhão com a natureza, o deslumbramento com suas preservadas paisagens e a fantasia de ter um pedaço disso amansaram tudo que chacoalhava por dentro. Saí de lá chorando, doído por partir e agradecido de ter ido. Um choro bom, que faz entender que o que importa mesmo é o amor, que todas as pequenezes do cotidiano ficam ainda mais minúsculas quando somos fruto de uma mãe tão perfeita quanto o universo. E é confiando nisso, com a fé impregnada em todos os meus poros, incorporada ao meu ser, que me despeço e que acredito piamente que o sol da minha cidade cinza vai estar me esperando ainda mais brilhante do que o da minha adorada Kauai.
FiftyFlags: We Believe!
Até a volta.


É com um nó daqueles na garganta que vou escrever este parágrafo. O último escrito nos EUA. Meu coração já está dando sinais de saudade, de nostalgia, de despedida... Coração, eu consigo te entender! Esses seis meses de estrada foram um presente da vida, lugares como Kauai e momentos como esse, exatamente agora - a caminho do Burning Man - me tornam grata ao universo, à minha família, incluindo meus sogros e meu companheiro de alma, Thiago, esta corrente de amor e fé que orientou o FiftyFlags ao longo de sua jornada. Aos amigos que fizemos aqui... Aii como dói dizer Bye... But I'll see you soon, thank you so much for everything! Aos amigos no Brasil: estamos chegando!! 
Isso tudo vai deixar saudade, com certeza, mas nosso sonho ainda não acabou e voltar pra casa é só parte desse processo. Volto com um sorriso enorme, pronta pra abraçar "os meus" e com uma vontade imensa de continuar fazendo ACONTECER!
Obrigada ao AMOR, que me move.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Você tem medo do quê?



03/08/2011

15:00. Vinte adolescentes nipônicos ouvem atentamente as instruções do também nipônico chefe da delegação. Estou aqui sentado em uma banqueta esperando a Bisny voltar com o cartão de crédito, sem o qual não posso alugar uma bicicleta (a minha está em SF). A turminha do Jaspion se prepara para uma carreata pelas ruas de Portland, Oregon, já devidamente encapacetados, só esperando o comando do líder. Breve, partirei em voô solo, a fim de oxigenar o cérebro e concatenar as ideias que tentarei expressar em sentenças substanciais. Esse inesperado tempo de espera gerou essa introdução, que, em algumas horas, terá mais conteúdo verborrágico visceral acrescentado. Vou pedalar e volto para soltar o verbo. Sem censura, sem freios, mesmo que meus leitores não passem de meia dúzia. Pouco me importa, isso para mim é uma necessidade, é a maneira mais satisfatória que encontro para materializar a voluptuosa amálgama de pensamentos engasgados que infestam o meu ser. É o modo mais eficiente de me conectar com meu âmago, que me dá coragem de ressaltar, enfatizar e ratificar os ideais que fazem a cada dia que passa me sentir mais capaz de mudar à minha volta as coisas com as quais não concordo. A começar por mim.

Dia seguinte. 11:00. Não tive nem condição física nem tempo de retomar este texto após a pedalada de 40 milhas. Após rodar três horas e meia de Sudeste a Nordeste por Portland, e logo devolvida a bike, nem bem havia me esticado na grama da praça para recobrar as energias, Chris e Barô chegaram do Outlet. Fotografias rápidas, jantar natureba no Whole Foods e viemos direto para a casa da Laura, nossa host emergencial. É do sofá de sua sala que volto a escrever. E volto ao ponto em que estava.

Eu sou uma pessoa de sonhar e imaginar. Até demais, até ultrapassar os limites do sadio devaneio. Viajar  pelo mundo sem destino sempre orbitou em meus universos imaginários. Mas a vida de cada um acontece de um jeito. A minha história foi sendo escrita de modo que esse sonho tivesse que ser adiado, dia após dia. Até o momento em que a minha realidade de garçom do Spot passou a ser mais importante do que qualquer "realidade" criada pela minha mente fértil. O feijão com arroz do cotidiano passou a ter um sabor especial, e eu acho que é por isso, por ter dado valor para o presente, para o aqui e agora, é que a recompensa de poder viajar veio logo. E um mundo se abriu para mim - em múltiplos portais. A cada instante em que avanço com meus passos nesses túneis, muitos outros se esboçam e me chamam a atenção: também quero ir lá! E o medo vai ficando cada vez menor.

Em uma de nossas entrevistas, com a Heather, em SF, perguntamos pra ela o que seria em sua opinião um mundo melhor. Ela respondeu que seria um mundo com menos medo. Eu concordo plenamente. A gente é criado pra viver com medo, o medo rege os valores de todos os segmentos da sociedade. A igreja te diz para ter medo de Deus, a escola te diz para ter medo do mercado de trabalho, suas amigas te dizem para você ter medo se estiver solteira aos 30. E aí você vai, que nem gado em boiada, sendo levado nem se sabe pra onde.

Um clarão de luz, como se fosse um longo relâmpago, me sacudiu intensamente anteontem. E eu decidi não sentir mais esse tipo de medo, pois ele não me pertence. Rapidamente vou situar nossos passos. Saímos domingo de Chico, CA, onde surfamos no sofá da Donna (um capítulo interessante, mas que não será contado agora) e subimos dirigindo pela Highway 101, ao longo da faixa litorânea do Oregon. Dormimos em um hotel em Florence, simpática cidade costeira. Nosso próximo destino era a Portland de onde escrevo, e até então não tínhamos onde ficar por aqui. Desde que o Barô chegou, nossos hosts têm que estar dispostos a receber três pessoas e não duas. Como o tempo era curto, ao invés de mandar requests pessoais, decidi escrever uma mensagem no grupo de Portland da página do CS. Esse recurso já havia dado resultado positivo por duas vezes, em Austin, TX, e na outra Portland, ME. Escrevi a mensagem e pegamos a estrada. Não demorou e o telefone toca: Peter, com voz de executivo. Disse que poderíamos ficar, que passássemos para encontrá-lo no que pensei ser seu escritório. 

Atingimos o destino e o "executivo" Peter apareceu no alto dos seus 21 anos, em trajes informais e cabelo e barba desalinhados; até aí, ornando perfeitamente com a minha imagem. Mas a surpresa estava por vir, e a partir de então o tal relâmpago veio me emprestar sua luz. LUZ. A casa de Peter não tem luz. Peter vive em uma comunidade chamada The Arc. Ao todo, entre habitantes e forasteiros, umas dez pessoas devem pernoitar diariamente nesse complexo habitacional insólito. O baque da falta de eletricidade foi um misto de comicidade e desconforto, mas todos os três tiramos essa de letra. Refeitos do susto, tivemos que lidar com o descontentamento da comandante da trupe, que não tinha sido avisada da nossa chegada. Ela não escondeu sua revolta com Peter, mas foi cortês conosco: remanejou as peças e nos desponibilizou o meditation room. Acho que a Bisny não chegou a comentar que, mais uma vez, tivemos problemas com colchão de ar, dessa vez no Yellowstone. Pois é, o nosso furou e ficou por lá mesmo. Insatisfeitos com o gênero, resolvemos seguir viagem sem adquirir um novo, imaginando que nas próximas paradas ele não fosse se fazer necessário. Mas se fez. No nosso aposento da meditação só havia mesmo o carpete; sem luz e sem cama. "Bom, nem tudo está perdido, temos lanternas e o Barô comprou um sleeping bag, que, estendido, pode comportar as costas de nós três e fazer da nossa noite algo não tão duro" - pensei. 

Como é de nosso costume, convidamos nosso anfitrião para jantar. Não saímos imediatamente, porém, porque um dos moradores da comuna pegou nosso celular emprestado e acho que esqueceu de devolver - ou deu uma abusadinha mesmo. Reunidos no jardim, no semi breu do fim do crepúsculo, fomos introduzidos a Jeremy Houston. Portlander, assim como Peter, falou sobre muitas coisas de que eu até então não tinha conhecimento. Contou do encontro Rainbow, que acontece anualmente nos EUA e em outras partes do mundo, sempre em alguma floresta diferente. Contou também do Cascadia, movimento separatista que propõe a criação de uma nova nação, no território que hoje seria o correspondente aos estados do Oregon, Washington e norte da California, nos EUA, e de British Columbia, no Canada. 

Calma aí, vírgula. Melhor, ponto e vírgula. Estávamos em uma residência sem luz, alojados improvisadamente em um cômodo sem móveis e não tão asséptico, nosso celular estava momentaneamente confiscado, e, de repente, um cidadão participante desse cenário me vem com uma história de que o poderosíssimo USA, terra de tratores e soldados, senhor das armas, vai ser desmembrado e assistirá nascer de suas entranhas um novo país, liberal e vanguardista! Acho que esse quadro mexe um pouco com os sentidos de três jovens que cresceram tendo suas roupas lavadas pela empregada doméstica, não? 

Enfim, resolvido o drama do celular e o medo nos guiando a guardar nossos pertences de valor no carro, resolvi, por que não?, convidar também o revolucionário separatista e vegetariano para o nosso singelo jantar, no que fui prontamente crucificado com olhares e murmúrios igualmente repressores, tanto da Chris quanto do Daniel. Na hora me senti como se esmurrassem meu estômago, como se fosse eu um descabeçado inconsequente, onde já se viu convidar alguém para dividir a refeição. Demorei alguns instantes para me refazer do golpe, mas a Chris tomou as rédeas da situação, colocou panos quente e direcionou os moços ao carro. 

O Jeremy é um cara muito inteligente, com muito conhecimento e ideias inovadoras que, apesar de viver em uma condição que não é a que mais me seduz, tem minha admiração por acreditar em seus ideais e persegui-los. Eu não sou ninguém para julgar quem escolhe morar no quintal de uma casa sem luz. Isso não está relacionado com a integridade e a honestidade da pessoa. Jeremy levou a gente em um restaurante que funciona em um hotel, que por sua vez funciona em um prédio que outrora foi uma escola ginasial. Muito bacana, comida boa e barata. A companhia interessante e hilária (Peter deu um show de non sense com risadas e grunhidos incompreensíveis) saiu por $20. E nós quase não fizemos isso porque sentimos medo. Mas o medo passou e a portentosa luz  do relâmpago fez o clarão que se formou dentro de mim se expandir para cada uma de minhas células.

Sentado no quintal, à meia-noite, vestido com meu macacão do arco-íris, ensinando ao Peter de 1 a 10 em português, me senti livre e pleno. Porque não tenho medo de ser quem sou, não devo nada pra ninguém e nada nesse mundo será capaz de me afastar da minha essência. Porque estar em profunda comunhão com nós mesmos é o único jeito de sermos felizes. Porque você é de um jeito e eu sou de outro. Então seja você o que é, mas nem pense em tentar me mudar, pois isso não acontecerá. Peter e Jeremy, lhes desejo tudo de melhor que vocês possam ter, assim como desejo para qualquer pessoa que tenha o bem dentro de si. Se realmente Cascadia estiver para nascer e vocês precisarem de um reforço para a "batalha", não hesitem em me chamar.

Mudamos de couch, a casa da Laura tem luz, é limpa e ela é sangue boníssimo. Vejo pela janela da sacada a minha amada cineasta a entrevistá-la para nosso documentário. Tenho orgulho e admiração por ela, embora ela tenha medo de que a nossa jornada siga rumos opostos. Christina, eu quero que você mude o mundo comigo. Eu quero mudar o mundo. Com você ao meu lado! Paz, paz, paz, paz, paz, paz, paz, paz, paz, paz, paz, paz, paz, paz, paz, paz!!!!!!!!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Bate e volta



27/07/2011

Burning Man, Burning Man, tenda, bandeiras, brigadeiro, bagagens, travessia para o Alaska, voô pro Hawaii, depoimentos, documentário, site, motorhome, e... Yellowstone a 1600 km de nós... Pára tudo, faz as malas, busca nosso companheiro nessa viagem - Arthur - e vamos lá. O FiftyFlags jamais pularia um estado, mesmo já tendo a respectiva bandeira.

Wyoming ficou para trás quando viemos para o Oeste. O tempo estava frio e os ursinhos famintos... Decidimos, então, voltar em algum momento futuro e mais propício para curtirmos as maravilhas do primeiro parque nacional dos EUA, o Yellowstone, assim designado em 1872. Bem, o momento chegou, não que fosse o ideal, já que estamos correndo contra o tempo para concluir nossa jornada, mas não haveria como encaixar essa desviada de roteiro mais pra frente. 

Saímos de SF sábado (23) com quase tudo resolvido para o BM, um couchsurfing agendado  em Chico para o próximo fim de semana e o compromisso de buscarmos nosso amigo Baro no aeroporto de San Fran hoje à noite - hoje, no caso, quarta-feira, dia 27, niver da querida amiga Van. Ou seja, fizemos um bate e volta de 17 horas cada trecho! Na ida ainda escolhemos um caminho alternativo: US 50 - a estrada mais solitária da America. Isso aumentou um pouco mais o tempo de viagem, mas pra gente, que já rodou nesse país mais ou menos 50 mil km, o que importa é a aventura e o passeio! E digo que valeu a pena. 

Fizemos uma parada para dormir em Twin Falls, Idaho, depois de dirigirmos por umas 15 horas, e no dia seguinte seguimos para o parque. Nós três estávamos super animados e ansiosos para encontrar um urso. Eu imaginava, por tudo que já lemos e ouvimos, que o Yellowstone seria lindo, mas tive uma surpresa agradabilíssima quando chegamos ao Teton National Park (que fica colado à parte Sul do Yellow)... Meu Deus!! Obrigada por poder enxergar, ouvir. sentir e me fazer integrar a um paraíso desses! Muito obrigada! 

Temos mesmo que agradecer ao poder da natureza e o fizemos. Agradecemos com muita força por esta oportunidade, incluindo a realização desse projeto, que já passou por 46 estados. 

Montanhas rochosas gigantescas - a mais alta, Grand Teton, tem 4192 m -, a neve, presente mesmo no verão, faz aquele desenho bonito no topo de todas elas, dando um toque sutil que compõe muito bem com o azul do céu; as árvores super altas e bem verdes dão vida de floresta ao lugar e o lago... Ah, o lago, uma imensidão de água azul que banha todo esse cenário e faz com que eu me sinta em outra dimensão... Olhar tudo isso é emocionante, estou tentando explicar em palavras porque gostaria de transportá-los para esse paraíso também, mas talvez seja melhor vocês mesmos um dia se darem esse presente! Um alimento para as almas e um estimulo ao amor e ao sorriso. E querem saber? Essa foi só a primeira impressão... Muitos outros detalhes desse portal foram revelados depois, durante nossa caminhada pelo meio disso tudo. 

Fizemos uma trilha de 11 km em 7 horas que literalmente nos transportou para um mundo mágico, de fantasia, de ilusão... Entramos por aquele portal ainda acompanhados de outros seres maravilhados, que nos cruzavam num ir e vir constante e amigável, até que nos vimos sozinhos. Nós três e a floresta, com seus tons e sons, NOSSA! Uhuuuuuuu! Putz grila... Que SENSAÇÃO... Nossa sensibilidade aflorada pelo poder da natureza... 

Subindo montanhas, passamos por rios, lagos, cachoeiras, cortamos - sem querer - inúmeras teias, vimos flores, borboletas, libéluas, esquilos, pássaros, troncos secos e posicionados perfeitamente como bancos ou enfeites... Até que lá do alto tínhamos a sublime visão do TODO! Só faltou mesmo ver os ursinhos, rs. 

Para completar nosso bate e volta, curtimos o segundo dia no Yellowstone. Um passeio rápido e interessante pelos geysers, impressionante a força e a quentura daqueles poços d'água, como é que pode? Eles seguem fervendo e borbulhando suas águas cristalinas pelas margens daquele rio gelado! E as cores? Coisa mais linda, do azul ao laranja ferrugem eles se espalham em diferentes formatos por uma grande extensão de terra. E para terminar com chave de ouro: um passeio de barco no Yellowstone Lake! Outro ponto de vista para admirar o mesmo paraíso.

Da água a floresta era ainda maior, mais fechada e misteriosa. Nenhum de nós tinha tido a experiência de pilotar um barco a motor, o que tornou tudo ainda mais emocionante. Gritamos, rimos e contemplamos nosso passeio pelo lago como crianças no mundo da imaginação! Ah, ainda estávamos procurando um urso por ali... Na beira do lago, procurando um peixinho... Quem sabe? Mas, nada de urso. Ainda temos o Alaska! Vou continuar emanando o meu pedido a eles; eu só quero uma foto!

Foram só dois dias, mas o que sentimos ficará com a gente para a eternidade. Tenho certeza. Agora, já na estrada a aproximadamente 3 horas, só penso em chegar em SF, conectar a internet e ver nosso filhote  que está quase pronto para ir para o ar. Estou ansiosa, sabe? Daqui de longe a gente vai trabalhando com a equipe que nos ajuda lá no Brasil, e depois de alguns meses ver o resultado mexe com a gente. Dá um nó na garganta de emoção, um frio na barriga de ansiedade... Através desse espaço vocês, e esperamos que muitas outras pessoas, poderão acompanhar e curtir nossa jornada, nosso FiftyFlags! 

Sou grata por estar aqui e estou com "barriga viva", como diz meu querido mestre Beto Silveira, esperando o aplauso de vocês. Aguardem, o site estará pronto em muito breve. 

terça-feira, 19 de julho de 2011

Encontros



18/07/2011

San Francisco foi durante esses 4 meses de viagem o lugar onde descobriríamos alguns mistérios do Burning Man, encontraríamos algumas respostas para nossas inúmeras perguntas e onde muitas de nossas ideias seriam colocadas em prática, pelo menos o esboço pré-evento. Ansiávamos também pela experiência de realmente viver na California, fazer uma turma de amigos, escolher um novo "café" como escritório, arrumar uma academia bacana, curtir dias inteiros de sol na praia assistindo muito surf... Esse tipo de coisa que se tem quando se mora em algum lugar!

Bom, depois de 3 semanas aqui, posso dizer que: em praia na Califa faz frio e venta; San Francisco = Fog; o consulado brasileiro é atencioso; San Fran tem traços arquitetônicos muito bonitos, predinhos cheios de estilo e ladeiras que desenham o horizonte, a 360º, fazendo uma bela moldura para as constantes nuvens repletas de gotículas que passeiam pela charmosa cidade dos bondes. A academia foi encontrada, assim como inúmeras respostas para nosso Grand Finale no BM e uma turma que ROCKS everything!

Se a gente precisava de ideias para construir uma tenda com as nossas 50 bandeiras no meio do deserto, viemos parar no lugar exato. Nossa nova turma frequenta o Burning Man há 12 anos! Oh yeah! Estamos muito bem cercados de gênios criadores de cidades-relâmpago que nos levarão uma semana antes para o meio daquele desertão... Veremos a BLACK ROCK CITY crescer, bem ali, pelas nossas próprias mãos.

Hoje, por exemplo, depois de alguns testes mal sucedidos, deixamos 25 bandeiras para serem costuradas numa oficina de chineses - 150 dólares - e teremos um teto seguro, que fará uma sombra de aproximadamente 40 metros quadrados naquele caldeirão. Teremos também, ainda esta semana, um dia de carpinteiros. Cortaremos 6 troncos, ainda não sei de qual árvore, provavelmente bambu; cada um deverá medir 7 metros e essa será a base de nossa tenda. Fora isso já deixamos guardados na casa do Merle (amigão) dois tapetes e um puff (para a galera se jogar por ali, descansar... Hang out). Enfim, estamos caminhando a passos largos, o que é ótimo, já que devemos partir para os próximos estados que faltam (Oregon, Washington, Alaska e Hawaii) até no máximo terça-feira que vem! Até lá o que não falta é trabalho... E animação, lógico!

Em meio a tanta informação, fomos surfar uns dias em Sacramento (cidade verde e cheia de sol!!), na casa da Nancy, uma senhora de 63 anos, proativa, queridíssima e super guerreira. Chegamos para passar uma noite, queríamos entrevistá-la porque achamos interessante uma mensagem que ela mandou para o grupo do couchsurfing, falando que iria, pela primeira vez, para o BM. Tínhamos que ir até lá! Foi a melhor coisa... Ela é tão agilizada que já comprou um motorhome (nós estamos penando para alugar um, ninguém quer estragar suas casas móveis com a impregnante poeira do deserto e quem arrisca cobra bem caro), um gerador solar, algumas fantasias, máscaras para proteger nariz, olhos e boca, baby wipes para garantir o banho, creme para ressecamento da pele, entre muitos outros ítens. Eu, mais que depressa, aproveitei a lista dela e me equipei também! 

No fim foram 4 dias super produtivos e alegres, com direito a um churrasco no parque, organizado pelo grupo do CS de Sacramento, no qual pudemos conhecer umas 20 pessoas dessa incrível tribo de "coração aberto". Pude também fazer a experiência de oferecer brigadeiro aos convidados, assim como queremos fazer para os visitantes do espaço do FiftyFlags no Burning Man... Descobri que dará muito trabalho e que precisarei de um cooler, for sure. 

Esse churrasco nos rendeu mais dois depoimentos: Jeff e Sanders. O primeiro, americano, pai de uma menina linda, que surfou com sua namorada por 2 meses na Europa; e o outro, que estava surfando o sofá dele, um holandês que está cruzando o país de motocicleta. Aqui as coisas são imprevisíveis... Essa é a melhor parte!! De Sacramento partimos para Berkeley por uma estrada irada, guiados por nosso companheiro motociclista. Curtimos uma bela tarde por ali e voltamos para San Fog.

Domingão: surpresa! Um lindo e inesperado dia de sol no parque com dois shows animadíssimos - My First Earthquake e Englis Beat. O lugar é especial, Stern Grove Park, um tipo de auditório em um vale no meio da floresta, com cobertores e mantas coloridos tomando todos os degraus da arquibancada gramada. Curtimos um montão. 

Hoje, um passeio à Pacifica Beach, também com o dia ensolarado, e amanhã... Conto depois, tá? Porque ainda não sei bem ao certo o que será. 

Beijos e saudade!

PS: Baro e Laurie, preparem-se!! Estamos esperando vocês.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Tijolo sobre tijolo

12/07/2011

Hoje eu acordei leve, de bem com a vida e um pouco menos agitado, embora pareça estar mais, já que, quando consigo me acalmar, fico muito excitado e demonstro isso agitando todos os meus membros e emitindo sons cavernosos, seguidos de abraços desmedidos, apertões exagerados e, dependendo de quem está ao meu lado, ávidas mordidas e lambidas.  A Bisny ficou toda babada hoje de manhã...

Acordamos com uma boa notícia: poderemos entrar no Black Rock Desert, deserto onde é construída a Black Rock City, uma semana antes do Burning Man ter seu início oficial. Fiquei muito entusiasmado, deve ser espetacular ver um deserto bruto ser transformado numa cidade que abriga mais de 50 mil pessoas durante uma semana. Mas quem tá pensando que conseguimos essa boiada pra ir lá e filmar tudo, camarote style, tá muito enganado. Nós vamos trabalhar de pedreiros, encanadores, serralheiros e ajudantes gerais. Vamos ser parte da equipe que faz, com o próprio suor, um local que não possui sequer um arbusto se transformar em um mar de instalações artísticas refulgentes e micro organismos habitacionais temáticos. Obviamente, em meio a todo esse comprometimento laborial, acredito que teremos grandes oportunidades de fazer belos registros. Damos e recebemos, é assim que deve funcionar, não da maneira inversa.

Uma semana em San Francisco e já conseguimos fazer bastante coisa. Se já fomos a Alcatraz? Não. Golden Gate Bridge? Também não. Lombard Street? Not. Pier 39? Bom, nesse fomos, só pra dar uma passeadinha; mas de passeio foi só isso mesmo que fizemos. Eu me sinto exatamente como um morador da cidade. Nossos amigos são "locais", as coisas que a gente tem que resolver passam longe da rota turística, vivemos um bom tempo em coffee shops com a cara enfiada no computador, frequentamos uma academia, enfim, somos da área. Mas vou falar que só essa semaninha aqui arquitetando o porvir me deixou com uma baita saudade da estrada. Estava tão sedento por uma rodoviazinha que, quando descobri que ia pegar um dos convites do Burning Man com um cara que mora a 100 km de distância, fiquei todo empolgado. A Bisny indagou se os gastos de gasolina e de pedágio não descaracterizariam aquela como uma boa oferta e eu, em breve reflexão, ponderei que os benefícios com as lufadas de vento quente na face proporcionados pelo automóvel em deslocamento, somados a uma bela trilha sonora, fariam muito bem para o astral. Balbuciei qualquer bobagem matemática a arrastei a gata pro rolê. 

Amanhã já estaremos em trânsito novamente. Tomaremos o rumo de Sacramento, onde pernoitaremos no couch da Nancy, que vai contribuir com o nosso filme e nos receber de braços abertos. Isto é outra coisa que me deixou bastante motivado. Além da Nancy, estamos nos comunicando com outros couchsurfers aqui da região, pessoas que são bem ativas no movimento. Todas têm se mostrado bastante interessadas em participar do FiftyFlags, acho que teremos bastante material para nossa história. E, afinal de contas, quem escreve a nossa história somos nós. Por isso, vamos tratar de carregar as tintas e empunhar os pincéis, porque a história que quero escrever é inédita, ninguém ainda contou. Serei eu o precursor de um novo gênero? Aguardem os próximos capítulos, eu de cá também os aguardarei. Mesmo sofrendo com a espera e tentando alcançar logo o amanhã, embora saiba que a única coisa que tenho é o agora. Ah, paradoxos de um sonhador... 

ALOHA!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Voltei






03/07/2011


Há tanto tempo distante da caneta, não me sinto totalmente confortável para começar este texto. Não que não tenha história para contar, muito pelo contrário; é que bate de sudoeste uma brisa de ansiedade, coisa de quem ama a escrita, almejou e almeja ser escritor, mas que às vezes tem uma relação conflituosa com ela. É um certo receio de que as linhas não fiquem à altura do pensamento. Mas que seja, sendo ou não eu um escriba de respeito, vamos aos fatos, que são absolutamente verídicos.

Lake Tahoe - divisa do estado da California com o estado de Nevada -, é aqui que estamos. E o pessoal tá tirando um barato da minha cara porque, no destrambelhamento incoerente dos meus movimentos corporais, acabei, literalmente, virando a canoa. A única que de fato se deu mal com esse meu lapso foi a Bisny, que vinha desde o começo do dia evitando mergulhar seu corpitcho na água acima da linha da cintura (só o suficiente para fazer um mix): tomou um banhão gelado graças ao palerma aqui. As duas outras vítimas, Paul e Merle, pessoas que não têm medo de água fria, se divertiram bastante com a trapalhada.

De Santa Monica, no domingo passado, traçamos um caminho cheio de escalas até atingir San Francisco, na sexta à noite. A primeira foi num lugar que já conhecíamos: a casa do excêntrico Bryan Costanich. Dono de um bigode renascentista, com certeza foi nosso host mais misterioso. Quando saímos da casa do grande camarada Jorge, naquela manhã, estava tudo combinado para passarmos as próximas duas noites também em Santa Monica, dessa vez na casa do Calvin, de quem falo melhor nas linhas que se seguem. Acontece que houve uma pequena falha de comunicação entre nós e, quando deu 21 hs, achamos que estaríamos sem teto por aquela noite. Perdão, sem teto jamais, não posso desconsiderar o valioso forro de nosso veículo, que tantas vezes nos protegeu do sereno e nos amoldou em seus bancos recostados, provendo o descanso necessário, sendo os nódulos deixados de lembrança na dorsal apenas um mero detalhe.

Enfim, antes de recorrer ao auto, decidimos tentar o Bryan. Mandamos uma mensagem de texto no celular, que ele prontamente respondeu de modo afirmativo, só nos alertando de que, pelo fato dos quartos estarem ocupados, teríamos que dormir na sala. Até aí, problema nenhum, já que o Bryan tem um belo sofá branco em seu living. A nossa surpresa veio no momento em que chegamos e encontramos tudo trancado, diferentemente do que ele costuma fazer.  Fomos ao jardim e procuramos pela chave em seu esconderijo habitual: nada. Foi então que vimos uma menina pela janela, que, confiando na nossa boa aparência, nos abriu a porta. Kasia, uma polonesa de 24 anos, na véspera de embarcar de volta para a terra polaca de origem, após seis meses nos EUA, estava há três dias na casa de Bryan e ainda não o havia conhecido. No outro dormitório, onde Mr. Costanich dorme quando está em casa, repousava um casal de franceses, que tampouco o haviam conhecido. Ou seja, em um aparentemente regular domingo à noite, o homem do bigode hospedava em seus aposentos três grupos diferentes de couchsurfers sem estar presente. Cheguei a pensar que estávamos sendo monitorados por diversas câmeras, participando de algum reality show, onde os participantes participam sem saber de sua participação. Mas acho que, no fundo, Bryan é só um cara que vive à frente de seu tempo; apreciei tal desprendimento, acredito na proposta.

Encerrado o capítulo Bryan, passemos ao capítulo Calvin. Segunda aproveitamos o dia em Laguna Beach e voltamos para as redondezas de LA. Calvin, o nosso suposto host de domingo, seria nosso host dos dois próximos dias. Chegamos e encontramos mais uma peça rara. O descendente de coreanos, de 42 anos, vive num apartamento de dois andares e duas suites, e nos ofereceu uma delas (a que tem uma banheira embaixo da cama). Este também é outro cara que parece estar um pouco adiantado em relação aos tempos atuais. Mas, ao contrário de Bryan, com ele tivemos muita oportunidade de conversar. Ele foi muito sangue nobre, gravou com a gente para o documentário e falou coisas interessantes sobre política, economia e vida. E, exatamente como o Bryan, mesmo após agradáveis momentos compartilhados, Calvin continua sendo um enigma para mim. Sei que gosta de ténis e cenoura, pois passou uma tarde inteira degustando-as, enquanto assistia às quartas-de-finais da chave feminina do torneio de Wimbledon. Sei também que é um cara muito inteligente e educado, com o qual ainda tenho muita idéia para trocar.

Para terminar a sessão couchsurfing, gostaria de mencionar o reencontro com a Laurie, nossa host malukety de St Louis. Encontramos com ela e com Nicki, sua filha, que estava na Bolívia naquela época, meados de março se não me engano. Passeamos pelo pier de Santa Monica, matamos a saudade e gravamos um depoimento bem legal. Não me surpreenderei se tivermos no Burning Man o reforço da mãe e filha que parecem irmãs. 

Foi saindo de LA que começou o caso de amor da minha Bisny com a Califórnia. Santa Barbara fez minha pequena vibrar. Depois da emoção de viajar costeando o Pacífico pelo Big Sur, Carmel quase a fez chorar. Mas vou falar de Carmel depois, já que vamos voltar para dar uma olhada melhor nessa jóia de cidade. Antes de chegar em San Francisco, surfamos em mais um sofá, em Monterey. São dois casais que dividem uma baita casa, mobiliada com esmero e limpa com capricho. Passagem rápida, aquela troca legal de gentilezas, mas sem maiores aprofundamentos. Pá e pum, seguimos até SF, onde minha amiga de longas datas, Bartyra, nos aguardava. A Bart mora com o Ian, seu namorado irlandês há quatro anos. Nesse mês de julho, iremos nos basear em sua casa; vamos deixar o grosso de nossas coisas e pular de canto em canto com mais mobilidade. O FiftyFlags, que até agora é o 46Flags, estará com todas as suas atividades voltadas para o organograma operacional da realização do nosso maior desafio e coroamento do projeto: a construção do circo-tenda-chillout no Burning Man. Resolvidos todos os detalhes pragmáticos e colhido um bom material, entre entrevistas e depoimentos sobre onde tudo começou (CS e BM), seguiremos viagem para completar nossa peregrinação na majestosa "América", de raças e povos distintos. 

Termino de escrever no motorhome em que estamos alojados aqui em Lake Tahoe. Essa casa móvel é do Jeremy e da Rachel, que vivem por aqui em South Lake Tahoe. Como a casa estava cheia, a Barty, o Ian, a Bisny e eu ficamos no motor. Imagina a minha felicidade, justo eu que sou louco pra ter um desses?! A galera aqui é demais, todos se ajudam e cooperam em tudo. O lugar é um paraíso, eu e minha boneca estamos em núpcias e o sol tá fritando. Vou nessa, comprometendo-me a aparecer com mais regularidade. Paz, Equilíbrio, Harmonia e Alegria a todos.

domingo, 26 de junho de 2011

Sai pra lá nuvem!!



26/06/2011


Primeiramente, desculpem a demora deste novo post; tempos não tão fáceis nos assombram. Nada demais e nada de inesperado. Indesejável com certeza, ninguém quer acordar daquele sonho cor-de-rosa e dar de cara com um dia nublado e de trovoadas, certo? Mas, como bons seres humanos que somos, sabemos que esses conflitos fazem parte do nosso "ser". Pensar no futuro, fazer planos, colocar-se objetivos, sonhar sem limites, sonhar com limites, imaginar os próximos passos de um projeto, de uma relação... Agarrar uma meta e projetar no mundo - e no outro - a realização de tantos devaneios... Isso é normal, não? Porém, nossa cabeça não funciona assim, ela não se contenta em sonhar porque, beirando os 30, ela já sabe que a realidade não é sonho, e que aqui, no mundo real, é preciso ralar, desviar dos obstáculos, enfrentar as feras dessa natureza selvagem - o mercado - e tudo mais. E é assim que o dia se fecha diante de nossos olhos e nossos corações, de um instante para outro todos os nossos fantasmas surgem das trevas pra nos perturbar! Ah, se eu pudesse trancá-los num calabouço... Quer saber? Talvez eu não o fizesse. Eles existem para nos fazer pensar, questionar e enfrentar, estão aí para nos fortalecer, para nos direcionar. Acho que eu só gostaria de dar a eles um visto de permanência limitado, algo tipo... 24 horas.

Como ainda não tenho esse super poder - estou me trabalhando pra isso - me concentro em dar o melhor de mim para que a situação fique controlada e que a paz logo se restabeleça dentro de nós. Como parceiros nessa jornada, o Thiago e eu somos mais que namorados, somos um campo magnético trabalhando na mesma frequência... Se um altera as vibrações, o outro logo sofre as consequências, e a gente sabe como é: isso dá um trabalho pra se equilibrar... Dá uma agonia, uma agitação... Aff! Mas, pera aí, estamos na Califórnia! Lugar onde sonhamos estar desde o começo dessa trip! Estamos trabalhando duro em nosso projeto, temos um site lindo indo pro ar, continuamos conquistando amigos e reunindo forças para nossa aventura no Burning Man... Ah, paremos com isso! Bola pra frente. Chutemos essa tal de angústia pra escanteio (ontem o Mexico ganhou dos EUA por 4x2, os chicanos estão em festa por aqui).

Bom, depois do Grand Canyon ficamos isolados num hotel, bem agradável, em Riverside. A ideia inicial era irmos pro Joshua Tree National Park, mas, chegando lá, demos de cara com um parque bem roots, sem qualquer tipo de serviços. Como já estávamos na estrada por mais de seis horas e eu, particularmente, já estava satisfeita de desertos, decidimos seguir para Laguna Beach, CA. Mas paramos no meio do caminho, nesse tal simpático hotel. Lá ficamos trabalhando nossos espíritos, nossa relação e nosso FiftyFlags por três dias. Foi extremamente funcional. Além da ida ao cinema, para assistir "Meia noite em Paris", do Woody Allen, que nos inspirou à reflexão e à arte.

De lá, partimos para Los Angeles. Nos hospedamos na casa de um couchsurfer com hábitos muito bacanas. O cara nos deixou extremamente à vontade, nos sentimos literalmente em casa! Um quarto só pra gente, cozinha liberada e um bom exemplo de vida para observarmos - ele planta um monte de verduras e frutas no jardim (fiz até uma limonada ao estilo Vó Santina), tem duas galinhas que chocam ovos deliciosos, faz compostagem; é músico, ator, escreveu um livro sobre a tecnologia do iPad e iPhone, tem uma vitrola e uma coleção de vinil, entre outros. Não pegamos o depoimento dele, porque, apesar de tantos atributos, ele não parecia muito disposto a compartilhar e, então, deixamos pra lá.

Nossos amigos, o casal NagaNara, estavam nos esperando em Sta. Monica. Tivemos mais dois dias juntos, antes deles partirem de volta pro Brasil. Curtimos o primeiro sentados no mesmo bar, até tarde da noite, conversando e rindo e rindo e conversando. O segundo foi adrenalina total! Fomos ao Six Flags Magic Mountain, parque de montanhas russas. Ahhhhhhhh!!!! Foi demais. Eu amei. Agora sim posso dizer que me diverti. Diversão pra gente grande... Diferente do Magic Kingdom, claro. Gente, como é esquisita aquela sensação de medo, né? É um medo que vem na barriga e que faz a gente rir sem parar... Dá um ataque de risos... Hahahahah Muito bom! Gritei a valer. Foi ótimo, mesmo com as inconvenientes filas. Naroca e Thiago: amei ver vocês! Já estou com saudade. Amiga, fiquei com um nó na garganta quando você foi embora... Logo nos vemos.

Mudança de couch! Estamos agora surfando no sofá do Jorge, um colombiano de Barranquilla, muito querido e simpático, que nos levou à salsa, depois de uma saborosa pizza caseira (feita pela Marion - francesa e também do couchsurfing). Ele sim nos deu um depoimento excelente. Bem sincero e agradável, típico de alguém que já viajou bastante e que sente prazer em hospedar, conhecer pessoas e fazer amigos. Essa foi nossa última noite aqui. Hoje já vamos dormir em outro couch, também em Sta. Monica. Daqui pra frente será assim: surfaremos de couch em couch, atrás das figuras mais interessantes para nosso documentário! 

PS: ontem fomos para Venice Beach, finalmente estou vivendo na Califórnia!