sexta-feira, 8 de abril de 2011

Arribaaaa!!!!




07/04/2011


Vou aproveitar o cenário espetacular e, mesmo não tendo aptidão estomacal para escrever com o automóvel em movimento, relatar os nossos dias estupendos no Big Bend National Park antes de chegar à civilização novamente.

A parte oeste do Texas, que faz fronteira com o Mexico na região desértica do país latino, é vasta, árida e quente. Os termômetros estão marcando 40 graus fora do carro. Eu não sou muito de abusar do ar condicionado, ambientalmente não é legal e prefiro a sensação da temperatura natural, mas hoje não fui cowboy o suficiente pra sugerir à Bisny uma viagem caliente. Nem adiantaria, ela adora fazer minhas vontades descabidas, mas sabe muito bem me colocar no meu lugar. Ah, como eu amo essa menina...

Falando em cowboy, o que mais vimos pelo camping, além de adoráveis e ativíssimos casais da terceira idade, foram rústicos gringos: acampadores profissionais e motoqueiros, entendedores de mecânica e tomadores de cerveja. Foi um desses, que dormia em cima da mesa de piquenique para ver as estrelas e roncava como um trator, que fez uma inspeção no nosso corolinha e não constatou nada de errado. Outro, agorinha mesmo, no posto, me ajudou a calibrar os pneus devidamente. É, rapaz, aqui no Texas a maquininha não apita quando o pneu tá bom, tem que ter um medidor especial, que o cowboy logo sacou da caçamba entulhada da caminhonete - estamos nas terras das caminhonetes, nunca vi tantas.

Deixando um pouco de lado esses detalhes operacionais da viagem, vou falar do que mais importa, o parque. O Big Bend tem 3.242 Km2 e é a maior área de conservação do deserto de Chihuahuan. O parque é formado basicamente por planícies áridas e montanhas (Chisos Mountains). Nós acampamos na planície, perto do Rio Grande, a única área com um pouco mais de verde na região. Nas montanhas também tem um pouco de verde, mas é tudo muito seco, pedregoso. Para se ter uma idéia do quanto seco é o clima, esse ano ainda não caiu uma gota por lá.

Nós passamos três dias e meio fazendo trilhas, tirando fotos e nos conectando com a natureza. Em um ambiente como esse tudo muda no estado de espírito. A gente só comeu coisa saudável, praticou yoga todos os dias, fez um monte de exercícios e caminhou sem piedade. Saio daqui muito mais alinhado com meu corpo e com minha mente - fiz funilaria, pintura e ainda joguei um brilho. 

Agora é tratar de manter o ritmo até começo de maio, quando vamos fazer um mês inteirinho só de parques nacionais, um na sequência do outro, lá por Wyoming, Idaho, Utah e Colorado. Tudo vai ser uma preparação para o enfrentamento com um urso no Alaska, que estou agendando para agosto. Hah, até parece, né!? Eu sou um puta de um cagão. No Big Bend existe uma pequena população de ursos (pretos, bem menores do que o pardo gigantesco do Alaska) e leões da montanha, que, ao que consta, têm medo dos humanos e sempre os evitam. Eles ficam na área das montanhas e, apesar de conseguir controlar o medo usando a razão, fiquei adrenalizado ontem antes de fazermos uma trilha por aquelas bandas. A Bisny, bem valente, tava toda descolada, mas depois, já no carro, quase se borrou quando um veadinho, da espécie dos ainda sem chifres, chegou perto da janela. Não vimos nem leão nem urso, mas deitamos no topo da montanha, fechamos os olhos e sentimos o sol penetrar na nossa pele ao som da melodia dos ventos.

Eu já disse acima que o parque faz fronteira com o México, só o Rio Grande, que tá mais prum riacho seco, divide os dois países. Em nossas andanças pelo deserto, diversas vezes vimos alguns artesanatos locais ajeitados em alguma pedra, com um bilhete ao lado, em inglês é claro, com os preços de cada objeto e um sagaz God Bless You no fim, mais um potinho para o comprador depositar os dólares. Fiquei impressionado com a maneira que os mexicas inventaram de ganhar um trocado a mais. Viver por ali deve ser cruel, é areia e cacto que não acaba mais, você anda, anda e tudo continua igual. O céu é azul, mas ao horizonte parece nublado, de tanta areia que sobe na secura do Chiuahuan. O lugar é maravilhoso, mas viver sob essas condições, inalando pó o tempo inteiro, deve ser duro. 

Enfim, o que eu mais queria era encontrar um desses cangaceiros del deserto para trocar uma idéia. E não deu outra. No Boquilla Canyon, onde o rio é especialmente raso, avistamos uns 3 caras trabalhando ali, logo ao lado, no México. Depois de uma conversa aos gritos, em portunhol, um deles atravessou e veio falar com a gente. Obviamente ele queria vender alguma coisa, mas como não tínhamos nenhuma plata teve que ser na base do escambo: acabei levando uma pulseira pra Bisny em troca de uma caneta e um fone de ouvido. Fico pensando no itinerário dessa caneta, que foi presente de um cliente para os garçons do Spot, e que agora escreve ofertas de artesanato local para gringos trilheiros no povoado de Boquilla. Doido, não?...

Então, o cenário ainda não mudou, o Texas continua ermo e o celular não pega. Nosso host lá em San Antonio deve estar esperando um sinal. Esse cara deve ser figura, já viajou de sofá em sofá uns 70 países do mundo e logo mais está de mudança pro Brasa. De qualquer maneira será um contato breve, porque amanhã bem cedo já partimos para New Orleans.

So guys, that is it. Vou pegar o volante, que a minha MOMO (mochileira/motorista) já tá guiando há umas três horas. Deixo pra vocês muitas energias positivas, muitos beijos e abraços. Hasta Luego!


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3 comentários:

  1. Aeee... quero ver oq vc vai falar no post sobre New Orleans heim!
    hUAhauHUAHuh... muito legal o blog!
    Vou acompanhar sempre que puder!

    Um grande abraço e boa viagem pra vocês! A gente se vê por aí nesse mundão!

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  2. Sensacional...!!!!!!!!!!!!
    Os verdadeiros queridinhos da america...hehehehehe

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  3. Vitor Artioli de Paula14 de abril de 2011 às 16:11

    Nossa que demais!!
    Sou louco pra conhecer um desertão desses, o visual deve ser alucinante mesmo.

    Aproveitem muito a paz que só a natureza oferece.

    Good Luck!

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