sábado, 16 de abril de 2011

Sons of Illusion



15/04/2011


Estou extenuado, esgotado, com menos de um fiapo de bateria, só o suficiente pra escrever estas linhas tortas e dormir aliviado o sono dos justos. 

Ontem, ao deixar Panama City Beach, eu já vinha com uma certa sensação de cansaço. Lá a gente pegou dois dias de sol pleno, crepúsculos estonteantes, temperatura agradável e muita praia. A areia da praia, que é banhada pelo Golfo do Mexico, é bem branca e fininha, perfeita para se esparramar. Se não fossem os prédios estilo Riviera de São Lourenço eu diria que o pico é top. Mesmo assim é muito bonito.

O Jeff, nosso host, que nem bem desembarcamos armou uma festinha no apê, é completamente pirado, mas muito, muito gente boa. O cara é quarentão, capricha nos trajes - no dia da festinha fez umas cinco trocas, no mínimo -, toca bateria, tá aprendendo a tocar guitarra (comprou logo cinco) e foi muito carinhoso com a gente; prometeu até que vai se agregar à caravana do Burning Man. Eu boto fé. Ele tem três filhos e é o maior paizão. Na última noite todos dormiram lá na sala da casa, que tava nos trinques no dia de nossa chegada e virou uma celeuma completa.

Mas dizia eu que, no dia em que partimos, já vinha sentindo um certo cansaço, não conseguia acordar cedo, demorei pra arrumar as coisas, a Bisnaguinha também estava com cólica… Sei lá. De repente, sem mais nem menos, deu um aperto no coração na hora de me despedir do fera que eu desatei a chorar. É muito maluco esse negócio de ficar na casa de uma pessoa que nunca vimos, começar a fazer uma amizade e, depois de três dias, já ir embora pra outra casa, com outra pessoa totalmente diferente que também te cativa, sabendo que dali a outro par de dias vai deixar aquela historia que nem bem começou pra ser terminada, quem sabe, numa outra ocasião.

O Jeff ficou e a gente tocou rápido pra Celebration, que fica ao lado de Orlando e da Disney, porque, além da enrolação pra sair, descobrimos que o fuso horário nos brindava com uma hora a mais de presente. De Celebration e da Dri, nossa host, que é brazuca e um amor de pessoa, vamos falar depois, uma vez que ainda passaremos por aqui, na volta de Miami e Key West. Eu quero é FALAR DA DISNEY!!! Daquele parque do qual o Mickey é patrono e onde pra peidar tem fila.

A Bisny tinha vindo pra Disney com 14 anos e, por razões teen, não conseguiu aproveitar direito. Com o dobro da idade, queria voltar à fábrica das fábulas e se matar de tanto se divertir. Eu, que já vinha com a tal citada sensação de cansaço, acordei podre hoje e estava zero empolgado pra curtir com Donald e Pateta. Porém, rapaz psicanalizado que sou, tentei girar o botão e entrar na onda. A primeira punhalada veio na bilheteria: $ 289,00 pra visitar Magic Kindon e Epcot Center. No fim, até que isso não foi mal, porque, se a gente tivesse gastado cem dólares a menos mas fosse só ao Magic Kindon, a decepção teria sido maior. A proposta do Epcot é legal, tem a ver com o planeta, sua preservação, a união dos povos… Mesmo assim eu preferiria assistir quatro horas de National Geographic.

Pra gente, essa não é uma viagem só de lazer. Temos objetivos e projetos e, além de termos contado com uma ajuda dos coroas, empenhamos todas nossas economias nessa empreitada. Matematicamente falando, significa que temos U$100,00 por dia pra gastar. U$20,00 são do aluguel do carro, sobram U$80,00. Um dia intenso de estrada e isso vai só de combustível. Tem que comer alguma cosia e tal, já estourou. Daí a gente tem que compensar nos dias em que paramos em algum lugar. Em Panama City Beach deu pra fazer isso, o que equilibrou a contabilidade, só que a Disney hoje explodiu com tudo. Mas não estou chateado nem arrependido, a Bisny, tadinha, é quem está, ainda mais porque hoje eu não estava nos meus melhores dias e não dei aquela minha costumeira animada no reggae. Ela está aqui, dormindo ao meu lado, e eu queria que ela tivesse um sono tranquilo, que seus sonhos contassem o quanto acho ela uma mulher maravilhosa, inteligente, sensível, carinhosa, carismática e talentosa. E queria também jurar amor eterno, pedindo desculpas por não ter sido tão agradável hoje. 

Mas queria também, antes de terminar, falar mais um pouquinho da Disney. Será que, se todas aquelas crianças, ou melhor, os pais delas, abrissem mão de 30% de todo o dinheiro gasto com Aladim, Cinderela e Branca de Neve, ou com qualquer outro similar, e revertessem essa verba pra alimentar as crianças necessitadas da África, Ásia e da America Latina, muitas vidas não seriam salvas? Será que é mesmo fundamental uma criança crescer se lambuzando com chocolates e guloseimas em forma de personagens? Será que esses infantes sadios e corpulentos não poderiam crescer sabendo que, enquanto eles se refestelam com amenidades, a muitos falta o básico? Será que a Disney não poderia reverter integralmente a renda de dois de seus parques aos refugiados do Sudão? Não quero fazer aqui o papel do revolucionário falastrão, pois se realmente penso tudo isso não deveria nem ter pisado na Disney. Tampouco quero desvalorizar o sonho e a fantasia, que estimulam e alegram a imaginação de uma criança, que não tem culpa nenhuma de tudo de absurdo que assola a humanidade. Faço essas perguntas pra mim mesmo, porque tenho bem claro meu objetivo, que é viajar o mundo inteiro pra poder refletir com um pouco mais de propriedade a respeito dele. Talvez, quando eu vir de perto o mar de sofrimento que sei que existe por ai, isso me toque e eu dedique minha vida pra ajudar a mudar essa situação. Talvez eu veja todas essas mazelas com meus próprios olhos e não faça nada. Talvez eu seja mais um filho de Walt Disney e constitua minha família nessa ilusão. Talvez eu possa transformar o mundo. Talvez...


Para mais fotos:

8 comentários:

  1. legal essa viagem, mas eu achei que fosse pelos 50 estados americanos. e agora voce comenta que estavam em Panama City? eh um tour pela america central então.
    abraços do Marco

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  2. posta uma foto no Canal do Panama aí!!!

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  3. Opa, Marco, beleza? Panama City Beach é uma cidade no litoral noroeste da Florida. Abraço

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  4. que legal!! meu primo mora aí nos estados unidos, o nome dele é Cleber mas a galera chama ele de Clebinho.
    voces conheceram ele ?????

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  5. Jesus!! Cada um que me aparece...

    Thiago, sobre seu texto fundamentado mas contraditório que é, como o próprio ser deve ser para Ser, comece uma campanha hoje mesmo com 30% de menores gastos dessa viagem não-científica e de grandes valores pessoais (como o que aparenta ser pelos textos, fotos e posts).

    Ou tornar a viagem ainda mais desafiadora: sem alugar carro e ir nas boléias dos caminhões. ;-) Brincadeirinha...

    O sonho das crianças de irem para Disney não pode ser o fiel da balança de um mundo afogado pelos adultos, políticos e afins...

    Mas sem demagogias, afinal tem gente que não tem R$100 para viver num mês... USD100 por dia é luxo. ;-)

    De qualquer maneira o ponto é bom.

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  6. Proponho que vossa senhoria, através de sua milionária empresa, nos dê uma ajuda de custo, arcando única e exclusivamente com os gastos de combustível. Em contrapartida, me comprometo a baixar em 35% os demais gastos da viagem, nem que a saída (ou entrada) seja pela boleia. Você passaria a ter total trânsito para promover seus negócios em nossas mídias digitais. Topas?

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  7. Não captei...
    Vosso texto discorria do ato nobre da doação à causas mais "nobres" ou "coisa parecida", como o flagelo africano. Neste ponto concordamos.
    Se minha/nossa empresa "milionária" (embora obstante de ver isso na conta corrente) fosse milionária, certamente doaria quinhões a causas... mas voltando, se minha/nossa empresa doar o que quer você solicite, quem é que vai doar às crianças o tão sonhado refestelo com Mickey?
    Gatuno, apenas apliquei teu discurso nobre pra o teu dia-a-dia... funciona?

    Sem mais para o momento, subscrevo-me.

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