22/05/2011
E chove aqui no Badlands National Park... Ontem nós atravessamos o estado de South Dakota, nosso 36º, na intenção de aproveitar um domingão selvagem e explorar essa região que é bem bonita. Infelizmente não vou poder contar muito do parque neste post, já que estamos ilhados aqui no restaurante, vendo a chuva cair e aproveitando para adiantar algumas obrigações de viajantes documentaristas que somos.
De Minneapolis fomos para Sioux City, Iowa, uma cidade que fica bem na divisão de três estados - além de Iowa, Nebraska e South Dakota. Eu tenho um brother que, depois de jogar basquete na liga universitária e descolar uma facul na faixa em Nebraska, foi parar lá quando se casou. A esposa, Amanda, é enfermeira e ele trabalha numa empresa transportadora, basicamente resolvendo todo o tipo de pepino que transporte de carga ferroviária pode dar. Eu nunca tinha pensado nisso, mas, depois que ele me explicou, aí é que não entendi nada mesmo. Só aprendi que deve ser um trampo complicado.
No primeiro dia de nossa estadia, o casal nos levou a Omaha, Nebraska, a uma hora e meia de Sioux City. O centro da cidade é bem interessante, com várias construções antigas e lojas descoladas de vinil e arte. Nice place. No dia seguinte, mal saímos de casa. Fomos ali perto comprar a bandeira de Iowa, almoçamos em um buffet chinês e só. Era a chuva começando a atazanar nossa vida, depois da ensolarada Minneapolis. E era só o começo. No dia seguinte, sábado, levantamos e, sem demora, nos preparamos para partir. O roteiro era simples: dirigir quarenta minutos ao norte, pegar a bandeira de South Dakota e rumar para o Badlands. Seis horas o total da viagem, babinha.
Os primeiros trinta e nove minutos foram deliciosos, o gps nos levou direitinho à rua que buscávamos. Ai, por uma pequena falha no endereço do local onde pegaríamos a bandeira, ao invés de irmos para a direita fomos para a esquerda. BAMM! Empenhados em achar o número da casa, nem notamos uma placa que dizia: "Rodovia com pouca manutenção, dirija por sua conta e risco." Daí em diante foi lama pra tudo quanto é lado. Até a atolada definitiva foram outras quatro atoladas. Quando a gente percebeu que essa última havia sido pra valer, tive que sair atrás de ajuda. Deixei a Bisny sozinha no meio do nada , andei meia milha e voltei à "civilização". Não fui bem recebido. Resolvi voltar para conferenciar com minha partner antes de tomar qualquer decisão. Enquanto andava reparei que o sol estava firme, mandando luz e calor pra gente, transformando o charco em terra. Depois de ligar para o seguro e descobrir que não estamos cobertos para esse tipo de situação, as coisas afunilaram e a saída foi só uma: meter a mão na massa, ou melhor, no barro. Botei o boot no pé, saquei a camisa e comecei sem trégua a tirar com a mão as camadas de lama em volta do pneu; o solzinho continuava brilhando. Tem aquele ditado que diz que é melhor morrer tentando do que morrer pensando. Pois é, de tentar nós alcançamos. Desatolamos do ponto crítico e colocamos o carro no eixo. Sentei ao volante, observei que o solo estava em melhores condições, coloquei el cinturón de seguridad e acelerei, Rali Dacar style. Deu certo. Comemoramos, nos abraçamos, dançamos, fizemos um high five, pegamos a tal bandeira - no lugar certo - e seguimos pro Badlands.
Chegamos aqui às nove da noite, ainda com luz natural, e montamos a barraca em dois tempos. O colchão de ar, nosso costumeiro desafeto, parecia uma rocha. Tinha tudo para ser uma noitada de paz e descanso. Até começar o vento; 35 milhas por hora é demais pra nossa barraca, ela até aguentou fincada na terra, mas a sensação de tentar dormir assim não é apaziguadora para quem procura pelo embalo do sono no campo. Temendo o desabamento de nosso teto, pegamos nossas coisas de valor e fomos dormir no nosso leito alternativo favorito, o carro. Dessa vez com um pouquinho de lama a mais do que o ideal para o santo repouso. Tive que rir, não há outra coisa a se fazer num momento como esse. O dia alvoreceu e, tendo o vento arrefecido, resolvemos tentar um segundo tempo na barraca. Não vou dizer que a chuva atrapalhou, tampouco vou omitir que acabo de checar a barraca e constatar que os inclementes pingos romperam sua impermeabilidade, alagando-a parcialmente. Tentando sempre enxergar o lado positivo das coisas, Pollyana inveterado que sou, fiquei feliz por poder usar três de nossas toalhas, que até agora estavam estocadas no fundo da mala.
Estamos, desde uma da tarde, sentados no restaurante do hotel do parque, onde almoçamos. Vamos agora emendar o jantar, após uma profícua tarde. Conseguimos três respostas positivas de couchsurfing para os dias que vem chegando, localizamos todos os lugares para pegar as próximas cinco bandeiras e pesquisamos um monte de coisas. Daqui será para Bismarck, North Dakota; de lá para Billings, Montana; então para Wyoming e Idaho, até atingir em quatro dias o Bryce Canyon National Park, em Utah, onde a promessa dos meteorologistas é de sol pleno e abundante, para cozinhar a cuca, dourar a pele e aquecer os bons sentimentos que às vezes ficam congelados dentro da gente.
Falo com vocês em breve, narrando não sei ao certo o quê, na busca incessante de topar no dia de amanhã com uma versão de mim mesmo um pouco mais próxima do que tento ser. Au Revoir!
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