segunda-feira, 14 de março de 2011

Fios e cabos


13/03/2011


A tecnologia está aí. Será que tem como fugir? Porque ultimamente quem me dá mais trabalho nessa vida é ela. Com seus cabos, entradas, softwares, downloads e devices, nada me maltrata mais que o mundo digital. Às vezes tenho sentido saudades do meu relacionamento com o universo tecnológico do ano passado, onde o ápice era checar um emailzinho uma vez por semana só pra me certificar que ninguém tinha nada pra me dizer. Agora, embora metendo o pé na estrada, ando com uma parafernália eletrônica à tiracolo. É câmera, tripé, microfone, luz, gravador de som, internet móvel, e por aí vai. A gente, no intuito de documentar a trip com qualidade, comprou um monte de coisas em que não sabemos mexer. Então, agora que já caiu a fatura do cartão, aprender a lidar com essas máquinas ingratas virou obrigação.

São onze horas da noite e estamos em um hotel de beira de estrada em Edison, New Jersey; é um muquifo com aquele cheiro bem típico de mofo com desinfetante barato. Estamos acorrentados aqui porque amanhã logo cedo temos que voltar à Verizon (tipo a Vivo aqui da gringa). Hoje passamos umas três horas dentro da loja esperando os caras tentarem dar um jeito no MIFI, que é um aparelhinho de internet móvel que cobre boa parte do território americano.

Eu imagino que essa espécie de desabafo de uma anta tecnológica deve estar um saco. Talvez eu esteja um pouco cansado de apanhar das maquinetas, mas, choramingos à parte, é inegável que aqui as pessoas são reféns da tecnologia, principalmente da Apple. Ontem foi o lançamento nacional do IPad2, e em Monmouth, cidade minúscula ao lado de Princeton, a fila na Best Buy dobrava a esquina. Como é que pode nego ficar tão na fissura pra comprar uma parada que logo vai estar ultrapassada. É uma espécie de escravidão, onde parece que consumir é vital para a sobrevivência.

Mas o melhor disso tudo é que há aqueles imunes à ditadura robótica. A menos de um quilometro da Best Buy funciona um mercado Amish. Os Amish são uma galera que vivem da sua própria agricultura, em suas comunidades onde luz elétrica e carros estão vetados. As mulheres usam uma touquinha branca na cabeça e os homens uma barba bem da engraçada que em breve eu vou copiar. Todos são muito simpáticos, de maneira contida, mas com muito jeito pro business (todas as lojas aceitam cartão de crédito). Os produtos que eles vendem, além de deliciosos, são absurdamente mais baratos do que os vendidos nos supermercados normais.

Na verdade, eu não sou contra nenhum tipo de avanço que possa facilitar a vida das pessoas, só acho que é saudável a gente se dar conta que é possível se viver com qualidade e feliz com muito menos. Enfim, há que se equilibrar o peso disso tudo, tecnologia e simplicidade têm tudo para conviver harmoniosamente e se complementar. Acredito que é assim que as coisas acontecerão.

Nós, depois da canseira na Verizon, fomos comer no Applebees. Sem brincadeira, cada pedaço que eu punha pra dentro, sentia como se fosse uma granada tóxica de óleo. O rango é muito junkie. Mas é isso ai, na trip não dá pra escolher muito o que comer. Quando eu tiver minha casa auto-sustentável numa praia remota lá de Tuvalu posso escolher não ingerir essas dinamites. Por enquanto, já que só tem tu, vai tu mesmo.

Esquecendo um pouco meus conflitos gastrotecnoambientais, vou contar um pouco da viagem, que já começou de vez. Depois de uma semana nas Bahamas, mais pensando na volta do que de fato aproveitando o momento, apesar do mar fantástico e do solzinho camarada, conseguimos mais seis meses de permanência nos EUA com a maior facilidade. A imigração foi feita em Bahamas mesmo, o que nos surpreendeu. O oficial americano, com pinta de ex-Woodstock, não fez uma pergunta sequer, já saiu carimbando os passaportes e sorrindo. 

De coração leve, chegamos de novo a NY para mais dois dias de correria pra lá e pra cá: não poderia ser diferente. Anteontem chegamos a Princeton, NJ, onde pernoitamos na casa de um casal amigo. Ficamos um dia inteiro por lá e hoje fomos atrás da bandeira: mamata! Na primeira loja em que paramos, seguindo a indicação do parceiro, bingo!, bandeira de New Jersey. Faltando apenas 48 estados, nosso plano era chegar em Scranton, estado da Pensylvannia, ainda hoje, só tínhamos que parar rapidinho pra habilitar a tal internet móvel. Bom, o resto vocês já sabem. Boa noite.

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