quinta-feira, 24 de março de 2011

Surfing in the clouds



24/03/2011


O tempo voa. Quando a Bisny escreveu aqui pela última vez, no domingo, a gente estava saindo de Baltimore, Maryland. Neste momento, escrevo do quarto do hotel em Nashville, capital do estado do Tennessee. A distância exata das duas cidades é 959 km. Tendo em vista que de lá pra cá a gente parou em um monte de lugar e a nossa trajetória não chegou nem perto de ser uma linha reta, dá pra falar que, fácil, fácil, rodamos uns 1200 km desde o último post. Acho que dá pra imaginar quanta coisa já aconteceu desde então, e que dá pra imaginar também que, infelizmente, não há maneira de relatar tudo. E não digo isso só por achar que todo mundo tá interessado em saber das nossas aventuras. Digo isso, principalmente, porque escrever tudo que vem acontecendo na nossa viagem, as centenas de pessoas que temos conhecido, todos os lugares sensacionais por onde temos passado é a melhor maneira de documentar e eternizar talvez os momentos mais felizes da nossa vida. Mas eu sei que tudo o que mais vale a pena não precisa de foto, texto ou vídeo pra se eternizar na nossa memória e nos nossos corações. Tudo isso vai nos acompanhar pra sempre, não importa onde estivermos, nem que esse lugar não seja nenhum dos lugares em que a gente ainda vai estar, aqui, nessa pequena dimensão que habitamos temporariamente.

Bom, mas não é por causa disso que vamos deixar de escrever cada vez mais e mais, porque acreditamos estar escrevendo sobre a melhor coisa que existe, que é viajar. E viajando por uma ensolarada estrada a gente foi deixando Maryland para trás e se aproximando de West Virginia, completamente sem idéia do lugar onde íamos dormir. No dia seguinte a gente tinha programado uma visita ao Blackwater Falls State Park, que fica ali na área. Depois de rodar um tanto, achamos um hotel razoável no preço e nas instalações, na cidade de Elkins. Antes de dormir, resolvi dar uma olhada no couchsurfing, pra, quem sabe, conseguir alguma coisa no Kentucky. Escolhi a cidade de Lexington, sem botar muita fé que a comunidade dos surfistas de sofá estaria presente em todos os cantos dos EUA. Doce engano - ainda bem. Antes mesmo de dormir, eu já tinha ajeitado tudo com o Cory, que aceitou nos hospedar em sua casa logo na noite seguinte. Acordamos com o maior aguaçeiro no começo da manhã, o que impossibilitou o nosso passeio. Como esse parque era nossa única programação em West Virgina além da bandeira, ficamos só por ela, que, para a nossa sorte, foi baba de achar. Despretensiosamente, enquanto a Bisny tirava uma grana no banco, entrei em uma loja e perguntei da bandeira. Pronto, feito, adeus West Virginia, foi bom quase te conhecer. 

Mas West Virginia ainda iria nos proporcionar boas coisas; não com suas paisagens, mas com os filhos de sua terra. O Cory, dono do nosso sofá no Kentucky, é natural de West Virginia, além de ser um dos caras mais sangue-bom com quem a gente cruzou até agora. O sofá dele na verdade é uma suíte irada, a casa dele é muito legal, com uma decoração moderna e de bom gosto, e o cara fez a gente se sentir completamente em casa. Saímos pra jantar as duas noites, Cory mostrou todas as fotos das trips dele (o cara ja rodou boa parte do mundo), nos deu um Atlas com todos os mapas das estradas americanas, deu um monte de dicas de vários picos que são imperdíveis e ministrou uma aula de basquete: o bicho é gigante, tem quase dois metros de altura e, além dos afazeres que lhe dão renda para viver numa tranquila, é técnico de basquete em uma escola só por prazer. Isso é lifestyle!

Saímos de lá já com saudades, mas na certeza que esse fera ainda cruza com a gente antes da trip acabar. No Kentucky, só achar a bandeira é que foi dureza. Em Lexington foi impossível, lá eles são fanáticos pelo Kentucky, mas esse fanatismo se traduz estritamente em  relação à Universidade de Kentucky, que tem um dos times mais tradicionais do basquete universitário americano. Bandeira oficial do estado do Kentucky só em Louisville, que é a maior cidade do estado e fica a 130 km. Achamos, depois de muita pesquisa na internet, um showroom nessa cidade e, antes de tocar pra Nashville, tivemos que fazer esse pitstop. Bandeira na mão, partimos felizes e cantarolantes, já fazendo uso de nosso novo Atlas e evitando as estradas interestaduais, sempre seguindo pelas Scenic Roads, que é como eles chamam as rotas bonitas por aqui. 

Resumidos os últimos dias, agora, ao vivo e a cores, vou teminando de escrever, enquanto o Ben vai arranhando a viola aqui no quarto do hotel. Vamos sair pra conhecer Nashville e a universidade - Vanderbilt University - em que minha mãe, que hoje vai receber em São Paulo a medalha Ruth Cardoso, se formou mestre. Acho que, no mínimo, consegui herdar dela o prazer de viajar e conhecer, a curiosodade de descobrir a infinidade de coisas maravilhosas que estão em todos os cantos por aí, basta a gente procurar. 

Måe, se estou aqui hoje, é por sua causa. Parabéns pelo prêmio e por ser a mulher guerreira, inteligente e sensível que você é. Amo muito você. Amo muito você, Bisny, que, bem agora, está aqui ao meu lado filmando tudo e degustando uma maçã. 

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